ASA reúne agricultoras experimentadoras do Semiárido para refletir sobre seus quintais produtivos


Publicado há 10 anos, 10 meses


As falas e os sentimentos das participantes vão orientar a elaboração de uma cartilha a ser distribuída para cerca de 50 mil famílias atendidas pelo Programa Uma Terra e Duas Águas.

Participantes apresentam desenho dos quintais de suas casas na infância | Fotos: Verônica Pragana/Asacom
Direto dos sertões e agrestes de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, 13 agricultoras experimentadoras – quase metade delas leva como primeiro nome a alcunha de Maria – se encontraram em Lagoa Seca, na Paraíba, nos dias 11 e 12 deste mês. Todas elas são cuidadoras, a seu modo e com os recursos disponíveis nas suas regiões e propriedades, do espaço que fica ao redor de casa e que a ASA nominou de quintais produtivos.
Essa área da propriedade das famílias agriculturas é espaço de domínio e de expressão da criatividade da mulher. A partir das ações do programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA, o quintal ganhou visibilidade e novo impulso como um importante espaço produtivo que, através da variedade de plantas cultivadas no pequeno espaço, garante a segurança alimentar e nutricional das famílias e a geração de renda a partir da venda dos alimentos excedentes.
Cerca de 95% das cisternas-calçadão construídas pela ASA estão localizadas no quintal das casas. Desde 2007, a ASA já construiu mais de 13 mil tecnologias deste tipo ampliando a capacidade de armazenamento de água para produção de alimentos para número igual de famílias agricultoras.
A oficina em Lagoa Seca foi organizada pela ASA, através do contrato de patrocínio com a Petrobras, e teve como objetivo levantar subsídios para a elaboração de uma cartilha sobre o quintal produtivo. Esta publicação vai ser distribuída, no segundo semestre de 2013, para mais de 50 mil famílias agricultoras que serão atendidas pelo P1+2 este ano.
A ação das mulheres no quintal carrega em si as mesmas características de invisibilidade e desvalorização que os serviços domésticos têm. Por não desempenharem um trabalho remunerado, as mulheres são dependentes financeiramente dos maridos, o que as coloca num lugar de submissão em relação aos mesmos na maioria das famílias agricultoras do Semiárido brasileiro.
Por isso, ampliar a capacidade de produção de alimentos do quintal das casas é interferir também nestas relações de poder entre homens e mulheres, tentando tornar as mulheres mais autônomas e “libertas”, para usar uma palavra proferida por dona Maria Aparecida da Silva, conhecida como Cida, agricultora do alto sertão sergipano que representou o estado. “Mulher não é sapato para viver debaixo dos pés”, garantiu ela com firmeza.
“Alguns maridos defendem que o quintal é pequeno, na lavoura [roçado], que é maior, o resultado da produção é maior. Quando não têm como trabalhar no muito, eles não querem trabalhar no pequeno. Eles pensam grande e não valorizam os quintais”, comenta Sára Maria Constâncio, do município de Cubati, na Paraíba.
Mas, para as mulheres, a importância do quintal é inversamente proporcional ao seu tamanho.  Um dos significados mais destacados na oficina é que, nesta área ao redor da casa, as mulheres ensinam, pelo seu exemplo, aos seus filhos a cuidarem com amor da terra, das plantas e dos animais, a terem gosto por plantar o alimento que irão consumir e até vender, se houver sobra da produção. Através do cultivo deste amor pelo ofício da agricultura nos seus herdeiros, as mães alimentam em si a esperança de não perderem seus filhos para os centros urbanos quando virarem moças e, principalmente, rapazes.
Dona Cida Silva representou as agricultoras experimentadoras de Sergipe
“O quintal é um espaço importante de educação para os filhos. Lá, eles aprendem a valorizar a terra. A TV influencia para que deixem a agricultura. Sem agricultura acontece um desmantelo na sociedade porque não vamos mais ter alimentos”, sustenta Zeneide Balbino, presidente dos Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Areial e da Coordenação do Polo da Borborema “Na convivência com os quintais, eles vão trabalhando seu interior para serem futuros agricultores, produtores e contribui também para o aprendizado na escola”, acrescenta dona Cida.
As agricultoras veem o quintal de suas casas também como um espaço de experimentação de sementes, formas de cultivo e, sobretudo, de tecnologias que economizam cada gota d´água. Por ser próximo à casa, esse terreno recebe as águas das pias e banho, que umedecem, por exemplo, a terra perto das fruteiras. Na oficina, vários foram os jeitos de reaproveitar a água, como os canteiros econômicos feitos com lona de plástico e também de cimento, o jirau, uma espécie de mesa com estacas que permite que a água da irrigação das plantas de cima molhem também as plantas que estão embaixo, entre outras tecnologias.
Experimentando, as mulheres inovam e influenciam seus maridos a tentarem produzir de outro jeito para driblar as dificuldades de cultivar com pouca água. Mas essa é a tarefa mais árdua de todas. Dentro de casa é onde elas encontram mais resistência e desânimo para a sua busca pelo crescimento pessoal e familiar.
Na oficina, as agricultoras também mergulharam em cada parte do quintal, buscando destacar as suas partes, funções e desafios inerentes. A variedade de subsistemas que existe dentro quintal comprova a sua capacidade de produção diversificada. São aves e animais de médio porte criados soltos ou confinados, são hortas de legumes e folhas, são hortas de plantas medicinais, são os viveiros de mudas, são as cercas vivas, são as fruteiras e as plantas de flor, além dos sombreiros, são os espaços para uma conversa numa sombra de árvore, são o banheiro e também o batedor de roupa, onde a dona de casa e agricultora lava a roupa da família, entre outros componentes do quintal.
Na programação da oficina, as 13 agricultoras experimentadoras e mais cinco pessoas da equipe técnica e de comunicação da ASA, além de convidados que vão elaborar a cartilha, também conheceram o quintal produtivo de Marinalva, agricultora do Polo da Borborema, que fica no município de Remígio, próximo de Lagoa Seca. A experiência de Marinalva chamou a atenção das visitantes pela variedade de plantas e pela limpeza do terreno, além do engajamento que o marido Arenilson começar a ter com o trabalho no quintal.

Fonte : ASA Brasil
Veronica Pragana - Asacom
Lagoa Seca - PB
20/06/2013

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