Encontro de Pedreiros e Pedreiras de Araçuaí


Publicado há 13 anos, 8 meses


Por Myrlene Santos, representante da Rede de Comunicadores(as) populares do Vale do Jequitinhonha.

No dia 01 de julho de 2010, no salão do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade de Araçuaí, aconteceu o encontro de nivelamento de tecnologias para pedreiros e pedreiras dos programas P1+2, P1MC e Guarda Chuva que lidam com sistemas de captação de água da chuva. O encontro contou com a presença de 36 pedreiros e 3 pedreiras e integrantes dos projetos. O processo de capacitação destas pessoas foi gerenciado pelo CAV (Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica). O enfoque do trabalho realizado com estes profissionais vai além da construção das cisternas, abordando as possibilidades de convivência com o Semiárido. Há uma busca constante para modificar vidas, cuidando das famílias e trazendo dignidade de se viver nas comunidades rurais a partir da agricultura familiar proporcionada pela boa utilização dos recursos dos programas. Como são os pedreiros que passam mais tempo com as famílias, eles tem a possibilidade de identificar situações de risco, auxiliá-las e ensiná-las a utilizar bem os recursos.
Durante o encontro houve a apresentação em slides das atualizações em construção de cisterna, como a colocação de bases para a tampa e filtro da caixa. Os profissionais colocaram suas experiências e dificuldades e contaram que o trabalho de pedreiros nas comunidades rurais permite a troca de experiência com sementes, com alimentação, formas de melhoria do trabalho, enfim, cultura em geral. Eles reforçam a importância de se conhecer a fundo os projetos para saber como levar as informações às famílias.
O pedreiro Márcio Ferreira da Silva afirma que o projeto “traz um benefício humano, quando as famílias começam a interagir mais no processo e conseguem entender os direitos que tem, inclusive no setor de recurso público”. Afirma também que a participação nos programas tem mudado não só a vida das pessoas atendidas, mas também a dos profissionais envolvidos: “Ao longo do processo, eu senti que como pedreiro poderia contribuir diretamente com as famílias. Não só muda a vida da gente como profissional, mas como pessoa também”.
O processo de mudança fica evidente quando se encontra mulheres ocupando esta profissão, antes considerada masculina por lidar com a força física, como no caso da pedreira Anérica Vieira, de Francisco Badaró: “No princípio achei ruim, meio constrangedor, mas depois me acostumei com o serviço. Quando a gente chega nas casas pra trabalhar, vai acostumando com as pessoas da casa e fica tudo normal”, afirma. Além dela, sabe-se de mais 4 mulheres que atuam frequentemente nos programas.
Durante o encontro, exibiu-se um vídeo explicativo sobre os programas P1MC e P1+2, nos quais percebeu-se a alegria das famílias em receber as tecnologias e ter água em suas casas, assim como reafirma o relato de Anérica Vieira, quando questionada sobre isto: “Vi melhorias na qualidade da água de beber, de cozinhar e na alimentação mais saudável. Tem família que não tem nem uma planta perto do terreiro deles, depois que constrói a cisterna na casa eles plantam, colhem, a alimentação fica mais saudável.”
Porém, assim como vários outros projetos estes também tem enfrentado problemas, como relata o animador do CAV Juliano Gonçalves Freire: “Nem todas as comissões municipais funcionam de verdade. O número de pedreiros era um problema, mas já conseguimos reverter. Outro ponto é não ter estradas para levar o material. Muitas famílias não podem receber as cisternas pois não tem uma moradia dentro dos padrões para a implantação.” Além disso tem-se percebido o abandono de algumas caixas e falta de cuidado com as mesmas.
Para tentar solucionar este problema foi proposta a criação de uma rede de pedreiros da Articulação no Semiárido, ASA Minas, para discutir as tecnologias e as formas de trabalho através da troca de experiência. O foco principal é a ajuda mútua para a melhoria do trabalho e para que não haja concorrência entre os profissionais.

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