GERAIZEIROS DO NORTE DE MINAS AVANÇAM PARA A CRIAÇÃO DA RESEX


Publicado há 12 anos, 3 meses

Pela Rede de Comunicadores Populares do Norte de Minas


“Nós dependemos da terra para trabalhar, nos dependemos do ar para respirar, nós dependemos da água e precisamos ter atitude e coragem de dizer sim a preservação", esta foi a fala emocionada feita pela jovem Sirlene Leal Agostinho, da comunidade Água Boa II, Município de Rio Pardo de Minas, durante a Consulta Pública para criação da RESEX Areião-Vale do Guará. Geraizeiros de diversas comunidades dos municípios de Montezuma, Vargem Grande do Rio Pardo e Rio Pardo de Minas participaram das consultas públicas realizadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) que aconteceram nos dias 24 e 25 de novembro, nos municípios de Montezuma e Rio Pardo de Minas, respectivamente. Participaram ainda representantes dos poderes públicos locais, sindicatos dos trabalhadores rurais, organizações e parceiros que apóiam a iniciativa.

A consulta pública é uma das etapas para o processo de criação da Resex (Reserva Extrativista) Areião/Vale do Guará, uma luta histórica das comunidades extrativistas envolvidas, que anseiam pela proteção de seus territórios tradicionais. No Alto Rio Pardo, a sobrevivência do Cerrado e de seus povos é ameaçada pelo eucalipto e mais recentemente por estudos minerários. A criação da RESEX, modalidade de unidade de conservação e uso sustentável, é uma tentativa de proteger os territórios, as comunidades tradicionais, a biodiversidade e principalmente as cabeceiras de águas e nascentes.

Durante as reuniões, todos tiveram autonomia e espaço para se manifestar públicamente. Apesar do processo está em andamento há mais de 8 anos e acontecer de forma participativa com o povo da região, a consulta pública foi o espaço para tirar as dúvidas da sociedade em geral. Um dos maiores questionamentos se deu principalmente por causa da criação arbitrária do Parque de Serra Nova, que por ser uma unidade de conservação de proteção integral não permitiu que as populações tradicionais morassem no lugar. Porém, a Resex tem natureza diferente uma vez que inclui os habitantes, e busca proteger os meios de vida e a cultura dessas populações e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade, afirma Paulo Maier, diretor do ICMbio que esteve presente nas duas consultas públicas. Para Elmy Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Pardo de Minas, a proposta de criação da Resex é justamente uma alternativa a esse processo imposto pelo governo do Estado do Parque Serra Nova que foi de baixo para cima e que não nasceu a partir das comunidades.

Durante as consultas houve muitas manifestações emocionadas de apoio a Resex, bem como a conservação do cerrado e o uso sustentável dele. Para Dona Neuzita, moradora de uma das comunidades “o cerrado é nossa vida”, disse. Já Carlos Dayrell do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, disse ser um avanço essa consulta pública que é um dos passos para a criação da resex, porém afirmou que “se não fosse a luta do povo que foi para a frente das máquinas esse cerrado já tinha acabado”, argumentando sobre a demora do processo que já dura 8 anos.

Os geraizeiros moradores das comunidades que podem ser beneficiadas pela resex estão esperançosos com a possibilidade de continuar vivendo e convivendo com cerrado de forma sustentável. Para o pesquisador João Roberto Correia, pesquisador da Embrapa que há anos atua na região, a criação da resex é uma alternativa ao atual modelo de desenvolvimento uma vez comunidades tradicionais por meio do extrativismo estão mostrando que possível gerar renda e proteger a biodiversidade.


Com colaboração de Fernanda Ferreira, Helen Borborema e Helen Santa Rosa

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