GERAIZEIROS RESISTEM À INVASÃO DE EUCALIPTO


Publicado há 12 anos, 11 meses

Após 10 anos de luta, geraizeiros da comunidade Vereda Funda recebem posse de terras para implantar projeto de assentamento agroextrativista


Por Fernanda Santos, Helen Borborema e Helen Santa Rosa


As famílias agricultoras da comunidade tradicional geraizeira de Vereda Funda a cerca de 45 km da sede do município de Rio Pardo de Minas estão comemorando. Depois de 10 anos de luta pela apropriação de seu território tradicional, finalmente o Iter (Instituto de Terras do Estado) repassou oficialmente as terras para que seja implantada a proposta de assentamento agroextrativista.

No último dia 27, o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o Iter assinaram a escritura pública, porém, somente no final da semana passada a notícia foi divulgada. O território tem 4.906,6647 hectares e é avaliado em R$ 1,8 milhão. O assentamento deve ser realizado no máximo em cinco anos. Essa posse é resultado de uma forte luta das famílias e das entidades representativas dos trabalhadores rurais na reivindicação de seus direitos.

Seu Arcílio Elias dos Santos, agricultor da comunidade disse que “foi uma grande espera e só do Estado ter passado a terra para o INCRA já é uma grande vitória”. Ainda sobre o mesmo assunto, Rita Conegundes , agricultura geraizeira afirmou que “o fato do estado ter passado a terra para o INCRA trouxe mais segurança e tranqüilidade para a comunidade, pois a partir de agora o INCRA junto com a associação comunitária vai poder implantar o tão esperado assentamento agroextratista.”

A HISTÓRIA - As famílias da comunidade estão a várias gerações na terra em que o Estado considerava como devoluta. Porém há cerca de 40 anos, empresas de monocultura de eucalipto ocuparam o território, acabaram com a área de extrativismo e comprometeram a disponibilidade de água da comunidade.

De acordo com Seu Nerim, um dos anciãos da comunidade, foi uma fase triste, pois além de ter invadido às terras que há centenas de anos eram de seu povo, a plantação de eucalipto acabou secando os rios e o assoreamento acabou entupindo as nascentes. Seu Nerim relata que antes havia água em abundância na comunidade. Depois do eucalipto, eles chegaram a viver muitos anos dependendo de água da chuva ou de carro pipa. A organização religiosa da comunidade foi muito importante, já que nos cultos e reuniões eles sempre refletiam de forma crítica sobre a realidade. E foi em um destes momentos que
que a comunidade resolveu tomar as rédeas da situação e ir em busca de seus direitos.

Depois de muita luta, audiências, ofícios, documentos, resolveram ocupar o território, até então de posse da empresa da monocultura de eucalipto. Foram muitas batalhas, idas à capital mineira até que conseguiram fazer com que o contrato da empresa não fosse mais renovada dentro do território. Como um milagre, logo após retirar os pés de eucalipto, a água voltou a brotar e o cerrado voltou a cobrir a terra.

Porém, mesmo as famílias estando na comunidade há anos e mesmo a gestão do território sendo feita de forma à conservar os recursos naturais e preservar o meio ambiente, a posse da terra demorou anos para sair. Agora, a comunidade respira aliviada para ganhar forças para que mais esse desafio seja cumprido, que é de promover de forma sustentável e efetiva a gestão e reconversão do território para o extratismo, onde será buscado garantir a qualidade de vida para todos, aproveitando os recursos naturais, respeitando o meio ambiente e os conhecimentos tradicionais.

Veja abaixo a entrevista com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Rio Pardo de Minas, Elmy Pereira Soares que também é morador da comunidade de Vereda funda.

O que o fato representa para a comunidade?
Elmy: Representa a realização de um sonho, inicio da esperança de dias melhores, conquista da liberdade da comunidade.

Valeu a pena à luta?
Elmy: Tá valendo à pena, pois a luta continua.

Qual é desafio da comunidade agora?
Elmy: O grande desafio é conciliar produção e preservação com poucos recursos.

Fale um pouco do PAE (Projeto de assentamento agroextativista)
Elmy:
O PAE está em construção. Uma de suas finalidades é aumentar a produção agroextrativista, garantindo a segurança alimentar e melhor renda das famílias, recuperar áreas degradadas e buscar um modelo de educação diferenciada que valorize a cultura da comunidade e respeite seu modo de viver e conviver com o Gerais, sem perder a qualidade da educação. Neste sentido o PAE pretende melhorar a qualidade de vida da comunidade.


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