O AGRO NÃO É POP, O AGRO É TÓXICO, O AGRO MATA!

No Brasil, nunca tantos agrotóxicos foram liberados num intervalo tão curto de tempo.


No Brasil, nunca tantos agrotóxicos foram liberados num intervalo tão curto de tempo.


Publicado há 4 anos, 6 meses

Sem freio, a liberação dos agrotóxicos vem deixando o Brasil o maior consumidor deste produto. O uso está associado aos riscos à segurança da população em geral, segurança alimentar, diminuição da fertilidade do solo e intoxicação da fauna e flora.  

O Projeto de Lei Nº 6299/2002, também conhecido como “Pacote do Veneno” foi aprovado no dia 25 de junho de 2018 pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados com 18 votos a favor e 9 contra. A proposta foi apresentada pelo deputado Luiz Nishimori (PR-PR) e foi criado em 2002 pelo senador Blairo Maggi (PP-MT) que atualmente é o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os principais tópicos do Pacote são a mudança da nomenclatura agrotóxico para pesticida e a possibilidade de registro temporário para a comercialização de agrotóxicos sem a devida aprovação.  

Segundo dados da Campanha Permanente Contra Agrotóxicos e Pela Vida, na quinta-feira dia 3 de outubro, o Diário da União publicou o registro de mais 57 agrotóxicos, totalizando o número de 410 registros em 2019, mantendo o nível como o mais alto desde o início em 2005. A novidade desta publicação é o uso de uma nova classificação feita pela Anvisa que apresenta uma nova regra em que diversos agrotóxicos que eram considerados extremamente e altamente perigosos tornaram “improváveis de causar danos agudos”. 

Dados da ONU, mostram que o uso de agrotóxicos causa aproximadamente 200 mil mortes por intoxicação por ano. A organização ainda afirma que a ideia de que os pesticidas são essenciais para a segurança alimentar é mentira.  

Para a coordenadora da ASA (Articulação do Semiárido brasileiro), Valquíria Lima, quando o governo não tem uma política que prioriza e não coloca em sua centralidade a uma produção sustentável na mesa dos cidadãos, existe uma falta de preocupação com a qualidade de vida em consideração aos interesses econômicos do agronegócio. 

“Infelizmente nós estamos vivendo uma época que o Brasil está retrocedendo, é necessário que a população fale, se manifeste, coloque suas preocupações para que possam utilizar os espaços de controle social para os conselhos e também possam utilizar de todos os espaços possíveis para que o governo apresente uma política clara de desenvolvimento sustentável de produção de alimentos e um controle rigoroso e eficiente para acesso a insumos químicos, porque do jeito que está, há de ficarmos muito preocupados com o futuro da população brasileira”. 

A engenheira agrônoma, Mírian Nogueria, cita que a história dos agrotóxicos não eram para ser produtos para plantas. “Os agrotóxicos surgiram com intenção de serem armas químicas durante a Guerra Mundial, a ideia não era que fossem usados em plantas para combater pragas e doenças, então a gente percebe que isso não é  natural, não faz bem para os seres humanos que vão estar consumindo, nem para o solo”. Mírian, ainda destaca que é possível produzir sem utilizar o agrotóxico. Existem alternativas de produção sem o uso do veneno, como as caldas, insumos e todos os materiais de procedência vegetal ou animal que podem ser utilizados para combater pragas, fertilizar e adubar, sem o uso do veneno.  

A sociedade civil organizada vem construindo alternativas para fortalecer a produção de alimento saudáveis. Uma das ações que se pode destacar é o Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2), desenvolvido pela ASA, articulação que envolve diversas organizações em todo Semiárido brasileiro. O P1+2 promove o acesso à água para produção livre de agrotóxicos e cuidado animal. No período de implantação das tecnologias, as famílias passam por oficinas que estimulam práticas agroecológicas, como alternativa para produzir caldas e inseticidas naturais.  

Para os beneficiários do Programa a formação facilitada através do programa, fortalece a soberania alimentar. “Nós, produtores rurais da agricultura familiar, não tínhamos oportunidade de muita coisa e hoje a gente tem uma verdura, tem uma fartura, se alimenta bem, porque a melhor coisa que tem é poder comer produtos sem veneno”, conta Maria Do Carmo, agricultora em Capitão Enéas. 

Em Turmalina, a relação do agricultor João Domingos de Macedo com a agricultura agroecológica começou quando os técnicos do CAV (Centro de Agricultura Alternativa Vicente de Paula) realizaram um trabalho de conscientização na comunidade alertando sobre os riscos do agrotóxico, foi quando percebeu que dava para produzir alimentos sem utilizar o veneno. 

Hoje, João Domingos está focado na sustentabilidade, possui produção agroecológica e afirma que é possível produzir de forma sustentável. “Senti uma diferença do agrotóxico para agroecológico em todos os sentidos, diferente no custo da produção e na qualidade da vida, é uma diferença no modo de viver, livre de riscos e contaminação de quem vai consumir e produzir o alimento, tira o peso das costas da gente”. 

A agricultora, Maria Madalena Oliveira Leite, mais conhecida como Dona Nenzinha, moradora da comunidade das Aboboras, município de Montes Claros-MG, tem o compromisso de observar a lavoura e fazer receitas orgânicas para conter as pragas, mantendo viva uma agricultura longe dos produtos químicos. 

Dona Nenzinha destaca que temos que lutar para não aceitar que o uso de agrotóxico seja “empurrado goela a baixo” da população.“Os alimentos estão cheios de veneno, isso se torna uma preocupação muito grande para todos, porque, saber que tem pessoas que poderiam estar cuidando da saúde da sociedade, mas parecem que querem destruir”. 

Ela reaproveita as cinzas das madeiras na horta e explica que essas têm “nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas, além de não apresentarem poluentes ou contaminantes”. 

Nas mudas de tomate a cinza é essencial, pois ela ajuda no crescimento e desenvolvimento e evita pragas, principalmente o cupim. Outra maneira agroecológica e saudável para as plantas é o adubo de origem animal. O esterco por exemplo é formado por excrementos dos animais e pode estar misturado com restos vegetais que fornece muitos nutrientes. 

A engenheira agrônoma, ressalta que o agrotóxico é o principal meio de intoxicação do alimento e que as práticas agroecológicas podem salvar o mundo. “A agricultura agroecológica pode tanto alimentar o mundo como preservar o meio ambiente e promover a soberania alimentar e segurança da saúde”, defende.  


Postado por: Comunicação ASA Minas

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