Salve, salve a caminhada! Salve, salve a Romaria!


Publicado há 13 anos, 8 meses


Lívia Bacelete - Comunicadora popular ASA/ Cáritas Regional Minas Gerais

Na margem esquerda do rio São Francisco, cerca de 1.500 pessoas estiveram reunidas “em busca da nova aurora, de um novo dia” para o rio e a população ribeirinha. Era a 14ª Romaria das Águas e da Terra de Minas Gerais, que aconteceu dia 18 de julho, no município de Januária, norte do estado.

Quilombolas, índios Xakriabá, vazanteiros, pescadores, agricultores, assentados e acampados da reforma agrária, agentes de pastoral, representantes de movimentos sociais urbanos e rurais e outras pessoas de todo o estado estiveram em romaria. Eles vieram em defesa das comunidades tradicionais, em enfrentamento aos grandes projetos de grupos empresariais e latifundiários e a favor de uma revitalização popular do Rio São Francisco.
Com o tema “Terra e água partilhada, herança de Deus resgatada” e o lema “Nas terras e águas dos Gerais, a memória da resistência de nossos ancestrais”, a Romaria teve a vida do Rio São Francisco e a ancestralidade do povo ribeirinho como elemento central de sua celebração.

A 14° Romaria das Águas e da Terra foi organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas Diocesana de Januária, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Mitra Diocesana, Irmãs Paroquiais de São Francisco e da Divina Providência, Paróquia Sagrada Família e Nossa Senhora das Dores, ambas do município de Januária.

Romaria da terra faz o povo reunir

A preparação dos romeiros da região aconteceu durante a Semana das Missões, dos dias 11 a 17 de julho. Nesta semana, os missionários visitaram famílias na zona rural e urbana da região, refletindo e discutindo os temas da Romaria. Na noite de 17 de julho, os romeiros chegaram a Januária para participar de um momento cultural com apresentações das comunidades tradicionais.

A caminhada em celebração aconteceu no dia 18, com saída em frente ao Estádio Municipal de Januária. Durante a concentração, houve a acolhida dos romeiros e dos símbolos presentes na celebração: a cruz e a imagem dos mártires.

Duas paradas foram feitas durante a Romaria. Na primeira, foram compartilhadas experiências de revitalização do rio dos Cochos, um subafluente do São Francisco. Na segunda, houve o encontro da imagem de São Francisco e Nossa Senhora das Dores, padroeira de Januária. Os romeiros continuaram a caminhada penitencial até o cais da cidade, onde aconteceu um dos momentos mais emocionantes da Romaria.

Ao som dos batuques quilombolas e dos cantos Xakriabá, a cruz foi fincada em frente ao Rio São Francisco, simbolizando o compromisso dos romeiros e romeiras com a luta pela vida do rio e transformando a 14ª Romaria das Águas e da Terra em um marco na história da cidade.

A celebração foi encerrada com uma missa campal celebrada pelo Bispo da Diocese, Dom José Moreira. Ao final da missa, foi lida a Carta da 14ª Romaria das Águas e da Terra.

Povo novo, retirante e lutador

A luta pela preservação do Rio São Francisco e por um projeto popular de revitalização, que leve em consideração a vida do rio e do seu povo, foi um dos temas mais refletidos pelos romeiros. Eles denunciaram a privatização das águas, o agronegócio e a violência do capital financeiro, que adequa o ser humano e a natureza ao fator econômico.

Localizado no Alto Médio São Francisco, o município de Januária é uma região marcada pela presença de comunidades tradicionais, que tem como base de desenvolvimento as riquezas doadas pelo rio, impregnadas na vida de seu povo.

A agente do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Maristela Mota, explica como o rio é fundamental na vida destas populações. “É interessante observar a importância dos territórios e o elo que sempre contribuiu para a resistência desses povos, o Rio São Francisco foi e continua sendo este Elo”, acredita Maristela.

As comunidades tradicionais lutam para garantir e preservar seus territórios dos latifundiários e da implantação de grandes projetos de grupos empresariais. Isidoro Revers, agente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), relembra os impactos de um desses projetos. “O projeto Jaíba, tira 80 mil m³ de água do rio São Francisco por ano. E para quê? Para produzir frutas e exportar para o exterior”, afirma.

Além denúncia frente à violência do sistema capitalista neoliberal, a Romaria também foi um momento de anúncio da vitória da vida e da organização do povo. Para Jacy Borges, agricultor e sócio da ASSUSBAC (Associação dos Usuários da Sub-Bacia do Rio dos Cochos), “ver o povo reunido em defesa da água e da vida faz esperança renovar”.

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