Fotos: Regiane Ferreira - Comunicadora Popular e arquivo Comunicação CAV Texto: Clebson Almeida (CAV) e Regiane Ferreira (Cáritas)
“Essa é a nossa água da alegria. Uma benção em nossas casas!” É com esse sentimento que o agricultor Manoel Carvalho dos Santos, 74, conta o que a água representa em sua família. “Agora posso regar minhas plantas na horta”, comenta Seu Manoel, morador da comunidade de Macaúbas, município de Veredinha, região do alto Jequitinhonha em Minas Gerais.
O agricultor e mais 11 vizinhos se uniram para preservar uma das poucas nascentes que ainda existe no local e assim levar água, batizada de “alegria” para todas as casas. Essa ação foi possível com um trabalho desenvolvido pelo Centro de Agricultura Vicente Nica (CAV), entidade que entre outras ações, realiza a gestão de um Fundo Rotativo Solidário em parceria com as associações de agricultores familiares feirantes de cada município, possibilitando pequenos empréstimos e acompanhamento técnico para o desenvolvimento de atividades de geração de renda nas propriedades.
Monte Alegre e Macaúbas são comunidades que há vários anos já acessam este recurso. Este este projeto comunitário é uma referência de gestão compartilhada e união, pois embora a maioria das famílias da comunidade realize a captação e armazenamento de água da chuva por meio da tecnologia implementada pelo Programa Um Milhão de Cisternas da ASA, nos períodos de grande estiagem, diversas famílias se viam na necessidade de procurar por outras fontes. Inclusive, essas famílias ficavam reféns da dinâmica local de abastecimento de água pelo poder público que na maioria das vezes é feito por meio de caminhão pipa.
Assim, a partir de um trabalho de recuperação e preservação de recursos naturais, com o cercamento de nascentes por meio de mutirão e construção de bacias de contenção nas áreas de recarga foi possível constatar, após alguns anos de monitoramento, um avanço considerável na vazão de uma nascente localizada em um ponto estratégico para abastecimento destas famílias.
Para a água chegar às famílias, era preciso recursos financeiros para a aquisição de material para construir a barragem de cimento e comprar 4.500 metros de canos, distância necessária para chegar à casa do último agricultor atendido, o Seu Manoel, que mora em um dos pontos mais altos da comunidade. O agricultor Joaquim Pinheiro Lopes, 55, conta que o valor para o projeto chegava a aproximadamente R$10 mil e os agricultores não tinham dinheiro para isso.
Foi aí que eles foram orientados a acessar o Fundo Rotativo de apoio aos Feirantes e assim captaram o valor para os gastos. Os moradores entraram com a mão de obra em modelo mutirão. “Cada um fez um pouquinho. Todo mundo ajudou”, explica a agricultora e esposa do Seu Joaquim, Expedita de Fátima Lopes de Jesus, 49. Na comunidade, ambos são chamados carinhosamente de “Prefeito da Alegria” e “Primeira-dama da Alegria”. Essa brincadeira começou porque é o Seu Joaquim o guardião na nascente. É ele e o responsável por fazer a distribuição da água para as casas. A comunicação entre eles é realizada por celulares, o que facilita ainda mais o processo.
“Quando o Seu Manoel me liga ele pergunta se é o prefeito quem fala, eu respondo que sou o Prefeito da Alegria. Essa água é a nossa alegria aqui.”, explica o agricultor. A água nasce no terreno do agricultor Sebastião Pereira Gomes, 69. “Eu já tenho água em minha propriedade e fico ainda mais feliz em poder ajudar os meus vizinhos”, conta.
Com o acesso aos recursos hídricos, a comunidade vem se conscientizando sobre a importância da agricultura familiar e alimentos sem o uso de agrotóxicos e com isso mais saudáveis. “Hoje, temos frutas plantadas no quintal. Antes eu comprava banana na feira e hoje tenho de tudo aqui: chuchu, feijão, milho, horta com couve e cebolinha. Não penso em sair daqui de onde moro”, conta o agricultor Joaquim.
Vicentina Rodrigues dos Santos, 62, é agricultora na comunidade e esposa de Seu Manoel. Ela trabalha na propriedade do casal cuidando das cabras, das galinhas e dos porcos. Mas, é a horta o seu maior orgulho. “Antes eu não tinha uma hortinha. Tinha um sonho de ter minhas plantas, mas a água era pouquinha. Tudo o que planto eu colho. Hoje, todos estão satisfeitos, pois até os passarinhos voltaram”, diz dona Vicentina orgulhosa por fazer parte desta inciativa de solidariedade.