Por Myrlene Pereira - Comunicadora Popular da Cáritas Diocesana de Araçuaí / ASA-Minas e Fabiana Eugênio Comunicadora do CAV O Que é Gênero? Foi com essa provocação que Carlinhos Pereira, da Pastoral do Migrante de São Paulo, iniciou o Encontro de Gênero, ocorrido no último dia 31, entre componentes da ASA no Vale do Jequitinhonha.
A proposta foi encaminhada a partir dos trabalhos do GT (Grupo e Trabalho) de Mulheres do Vale, pela necessidade de compartilhar as lutas e desafios. Geralmente os encontros que debatiam as relações de gênero eram prioritariamente entre mulheres – fato que, segundo Carlinhos e outros estudiosos, se justifica pela inibição feminina frente à dominação masculina histórica – mas o que se buscou neste encontro foi exatamente romper com paradigmas, colocando, em condição de paridade, homens e mulheres para debater o tema nos mais variados âmbitos.
A influência da cultura, do próprio feminismo, das raças e etnias e das classes sociais na relação de gênero e da mesma na migração foram os principais temas discutidos. A cultura patriarcalista, sustentada pelo sistema capitalista, desvaloriza trabalhos “menos lucrativos” como os trabalhos domésticos, se tornando um dos fatores que acarreta a submissão de um gênero em prol do outro. No processo migratório, por exemplo, as famílias passam por um dilema que gera conflitos de identidade em toda a estrutura familiar e cultural.
A desigualdade de gênero na participação comunitária também pode ser prejudicial para ações que visam o desenvolvimento social. Segundo Valmir Soares Macedo, coordenador do CAV “a disparidade de gênero nos espaços de discussão com certeza é prejudicial aos trabalhos, uma vez que devem ter o olhar e contribuição de todos e todas para ser efetivo”. O ponto alto do debate foi a construção de como promover o exercício das relações de gênero junto aos agricultores.
Outro ponto importante foi a lembrança de quantas pessoas se mutilam para mostrar capacidade diante de atividades desempenhadas tipicamente por um dos sexos. Marcilene, técnica agrícola do Campo Vale, trouxe para a discussão a necessidade de proporcionar condições de trabalho que levem em consideração as particularidades de cada gênero como forma de valorização e oportunização da igualdade neste ambiente. Um exemplo é o caso das mulheres pedreiras atuantes nos programas da ASA e das dificuldades encontradas por elas para desempenharem suas funções, principalmente pelo preconceito enfrentado.
O que se espera é que cada vez mais se tornem constantes as reflexões sobre este tema, em momentos em que homens e mulheres se reúnam tanto em grupos apenas de um dos gêneros quanto em momentos mistos, para avaliarem e construírem as fragilidades e avanços dessa relação para uma sociedade mais igual, mesmo nas suas diferenças.