Avaliação de riscos e desastres para ajudar na adaptação das comunidades as mudanças


Publicado há 13 anos, 8 meses

Bianca Pyl, especial para a Cese Os participantes do Seminário Mudanças Climáticas e Riscos de Desastres puderam conhecer um exemplo da aplicação do “Instrumento participativo de avaliação de riscos climáticos e de desastres”, ocorrida entre os dias 22 e 25 de março no assentamento Taperas, em Riacho dos Machados, Norte de Minas Gerais. Essas metodologia está sendo aplicada ao longo do seminário em três comunidades diferentes: Pintadas, Sudoeste da Bahia; Terra Indígena Krahô, Norte do Tocantins; e Barra do Pacuí, Ibiaí, Norte de Minas Gerais.

O objetivo do método, inédito no Brasil, é integrar redução de riscos relativos a mudanças e desastres climáticos em projetos de desenvolvimento das comunidades tradicionais, assentamentos, etc. A metodologia já foi aplicada no Haiti, Nigéria, Etiópia e Honduras pelas agências de cooperação Heks e Pão Para Todos.

O instrumento ajuda a entender como os riscos climáticos e perigos naturais afetam tais comunidades. A metodologia está dividida em sete módulos, cada etapa possui sugestões a respeito de recursos e instrumentos para a obtenção de informações necessárias. Para Custódio Camilo do Carmo, 45 anos, nascido e criado na região do assentamento Taperas, após a experiência a comunidade está mais atenta. “Muitas coisas que já estávamos observando não sabíamos que era Mudanças Climáticas, um problema mundial”, disse o agricultor que está participando do seminário.

O assentamento foi oficialmente criado em 1995 e de três anos para cá muitas mudanças no local foram observadas, como o tempo mais seco. “É um tema novo para a comunidade. Mas a aceitação foi muito boa porque eles de fato estão sofrendo com as mudanças climáticas. Os depoimentos mostraram claramente que ocorreram modificações no clima”, relata Uli Ide, da agência de cooperação Heks, um dos integrantes da equipe que aplicou a metodologia no assentamento.

Segundo os depoimentos dos moradores de Taperas, a seca está se agravando na região. “Eles já tem uma convivência com a seca porque é uma característica da região, que faz parte do triangulo da seca do Nordeste, só que ultimamente a seca está agravando, a intensidade da chuva e irregularidade está aumentando”, aponta Uli Ide. Os três riscos identificados foram seca, fogo e desmatamento.

Em Tapera, os pequenos agricultores, 39 famílias no total, já trabalham com a agroecologia e tem experiências na conservação do solo e da mata, por isso foram escolhidos para essa primeira experiência. De acordo com Custódio, primeiro foi feito um mapeamento dos riscos relativos às mudanças climáticas. “Depois de identificado os riscos, elaboramos as estratégias que precisamos trabalhar para conviver com essas mudanças, nos adaptarmos”, relata.

As famílias plantam milho, fava, feijão e mandioca. Além da cana e criação de poucas cabeças de gados. “Nós lutamos por uma variedade, plantamos também amendoim, gergelim, arroz e outros alimentos para consumo próprio”, explica o agricultor de Taperas.

Gênero A metodologia aplicada durante o seminário e no assentamento propõem a divisão de grupos para observar as diferenças de percepção que existem entre os dois gêneros. No caso de Taperas uma das principais diferenças foi o manejo da área. “Os homens trabalharam o mapa, colocaram toda essa divisão do loteamento do Incra e desenharam o mapa com as divisas dos lotes, no mapa das mulheres não apareceram as divisas”, explica Uli Ide. Ele explica que no assentamento não há cercas entre uma casa e outra. “Não há divisas físicas, eles respeitam as áreas do outro, mas não fazem questão de ter cercas”, detalha.

Outra diferença foi nos impactos dos riscos: para as mulheres a saúde é uma preocupação mais latente, como consequência da fumaça das queimadas. “Até porque a fumaça dificulta o trabalho delas, suja mais as casas, isso não apareceu no depoimento dos homens”, explica o representante da Heks no Brasil.

Estratégias No assentamento Taperas já existem cisternas de placa em cada casa e três pequenas barragens para manter água dentro do assentamento. A comunidade também fez uma bacia de contenção para infiltrar a água no solo. O rio próximo ao assentamento não é perene. O instrumento mostra justamente como fortalecer essas medidas que já são de adaptação.

Para Uli é importante as famílias aproveitarem o que já fazem para reforçar as estratégias de enfrentamento aos problemas. “Eles já tem práticas agroecológicas, já sabem a importância da preservação e o potencial do Cerrado”, disse. Além disso, a comunidade tem plano de manejo.

A comunidade está em fase de reorientar o planejamento do assentamento. “O tema veio justamente nessa hora. Minha impressão é que o tema vai receber uma importância maior na discussão”, analisa Uli. “A oficina trouxe um alerta muito grande para gente”, finaliza Custódio. A equipe que realizou o trabalho em Taperas foi composta por Marion Künzler (Pão Para Todos), Uli Ide (Heks) e Carlos Dayrell (Centro de Agricultura Alternativa).

O seminário, realizado em Salvador, na sede da CESE, em parceria com a Heks e Pão Para Todos, termina amanhã (1). Mais de 15 pessoas, de diversas regiões dos biomas Cerrado e Semiárido, estão participando do evento para levar as informações às suas comunidades e replicar o conhecimento.

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