Um território habitado por inúmeras populações indígenas, quilombolas, vazanteiros. Um espaço que abriga as lutas desses povos, as conquistas e os desafios futuros. Assim é a região do Vale do São Francisco, em Minas Gerais, que terá sua história retratada no documentário Território do Vale do São Francisco - É no Semiárido que o povo resiste!É no Semiárido que a vida pulsa!, que subsidiará o debate da mesa “Territórios de Convivência: Trajetórias de Lutas e Resistências para a Superação da Pobreza e Construção da Cidadania”, na manhã do segundo dia do evento (20/11).
A produção audiovisual conta a história do território do Vale do São Francisco, uma das oito microrregiões que compreende o Semiárido mineiro e que vai sediar o EnconASA. O vídeo mostra como o território se constituiu, quais são os grandes desafios atuais e como a ASA tem atuado nessa área. As experiências retratadas no vídeo também fazem parte do roteiro das visitas temáticas, que serão realizadas no terceiro dia do Encontro (21/11).
É neste vasto território de convivência com o Semiárido, rico em fauna, flora, tradições, cultura, que há povos em luta cotidiana por mais espaço político, por terra e por água. São populações como os indígenas Xakriabá, da aldeia Morro Vermelho, cravada no município de São João das Missões, numa área de 12 quilômetros banhada pelo Rio São Francisco. Lá, vivem aproximadamente 10 mil indígenas, que se orgulham de terem eleito um índio como prefeito da cidade, mas que ainda são desconhecidos da maioria dos brasileiros.
Mesmo diante dessa situação, o povo Xakriabá luta para ecoar a voz que diz que a área pertencente ao seu povo não foi demarcada de forma coerente. “Os fazendeiros não querem abrir mão da terra. Deixaram os índios sem o rio. Por isso, eles chamam todos os povos do Semiárido do Vale do São Francisco para se unirem”, conta a cineasta Patrícia Antunes, do Coletivo Arte em Movimento, que percorreu durante nove dias a região obtendo depoimentos e imagens para o vídeo.
O documentário também retrata a vida dos agricultores e agricultoras que enfrentam o esquema de comercialização da água no território do Vale do São Francisco. Enquanto os pequenos produtores da agricultura familiar desembolsam R$ 20,00 pelo metro cúbico da água, as empresas multinacionais instaladas na região pagam a quantia mínima de R$ 2,86 para ter direito a água.
Os depoimentos dos agricultores trazem essa questão para o debate do EnconASA. Sofrendo com o medo de retaliação, muitas vezes, preferem permanecer calados e não se organizarem em conselhos e associações. O assunto também trará para a mesa de debates o Projeto Jaíba, o maior projeto público de irrigação em área contínua da América Latina. O projeto abrange os municípios mineiros de Matias Cardoso e Jaíba, locais onde os agricultores e agricultoras afirmam que o maior problema é a concentração de água. Apenas os médios e grandes empresários - vários estrangeiros - são donos de mais de 36 mil hectares, o equivalente a 80% da área para irrigação.
Essas e outras histórias formam o mosaico que transforma em película a trajetória política, econômica, cultural, ambiental e social da região. São as experiências da casa de sementes de Barra de Tamboril, onde são cultivadas sementes crioulas de diversas espécies; a vida dos vazanteiros, que vivem nas chamadas ilhas formadas ao longo do Rio São Francisco; o território de Brejo dos Crioulos, onde as famílias enfrentam o coronelismo e o preconceito. Inúmeras histórias de superação, como a das mulheres da Associação Comunitária Mãe Ana (ACOMA),em Barra do Pequi.
Mulheres que não sabem ler e nem escrever, mas aprenderam a fazer bordados com frases do escritor mineiro Guimarães Rosa em bolsas e outros produtos para comercialização e geração de renda. “É um documentário da região. Cada participante vai levar um pouco desse vídeo para que possamos estimular internamente o debate sobre os territórios, para que possamos refletir as lutas, as resistências, as conquistas dos povos desse território”, explica a coordenadora executiva da ASA pelo estado de Minas Gerais, Valquíria Lima. Debates – Como parte das atividades da mesa “Territórios de Convivência: Trajetórias de Lutas e Resistências para a Superação da Pobreza e Construção da Cidadania”, na manhã do segundo dia do evento (20/11), também será apresentada a experiência do Projeto do Perímetro Irrigado, que o Governo Federal pretende instalar na Chapada do Apodi, no Rio Grande do Norte. O projeto prevê a entrega de terras da Chapada e da água da barragem de Santa Cruz para cinco grandes empresas do agronegócio e da fruticultura irrigada. Dessa mesma forma, ocorreu em terras da Chapada do lado do Ceará, no Vale do Jaguaribe. Com isso, as experiências da agricultura camponesa em Apodi, como é o caso da produção de mel, estão ameaçadas.
O vídeo será parte da programação do VIII Encontro Nacional da ASA – (EnconASA), que acontecerá de 19 a 23 de novembro, em Januária, norte de Minas Gerais.