por Diêgo Alves - Comunicador Popular ASA/Cáritas Diocesana de Araçuaí
fotos: Vanessa Fonseca e Diêgo Alves
Há 15 anos o programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) contribui na formulação de políticas públicas estruturadoras para o desenvolvimento do Semiárido, garantindo tecnologias sociais populares de armazenamento de água de chuva, bem como o fortalecimento e a construção do conhecimento agroecológico, o direito à comunicação popular e comunitária e formação política através de encontros e oficinas de capacitação envolvendo todos os
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Mística de acolhida dos/as participantes |
atores sociais do programa desde os coordenadores até os pedreiros (ou cisterneiros) que têm um contato maior com as famílias.
Durante os dias 29 e 30 de outubro pedreiros, animadores, coordenadores/as, comunicadores e assessoria pedagógica da ASA-Minas estiveram reunidos/as no Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Araçuaí no intuito de promover um processo de reflexão e prática sobre a qualidade das tecnologias construídas no Semiárido Mineiro. Para Vanessa Fonseca, coordenadora do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Cáritas Diocesana Região Baixo Jequitinhonha a importância política desta oficina é que ela vem afirmar a forma linear da ASA de construção política e técnica e não de cima pra baixo, reafirmar o protagonismo dos pedreiros e a força do trabalho em Rede.“Apesar das especificidades de cada região no caso o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha é possível estabelecer um diálogo comum tentando nivelar, igualar a qualidade das implementações pra trazer melhor qualidade e uso e maior vida útil da cisterna e uma melhor forma de trabalhar para e com as famílias.”
Vanessa ainda diz que o desafio é conhecer mais tecnicamente a vida útil de cada item das tecnologias, aprofundar diálogo com fornecedores e chegar ao ponto de padronizar, mas não unificar a tecnologia. “Não pensamos numa tecnologia que chegue pronta, fechada para as famílias, mas aquela que adeque a cada relevo, a cada comunidade, a cada família sem descaracterizar o saber popular. O que queremos é buscar maior qualidade sem desconsiderar a característica de cada território e cada instituição. Agregar valor ao conhecimento popular que os pedreiros e as famílias trazem.”
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Pedro Ramalho da Silva, pedreiro |
Pedro Ramalho da Silva, agricultor familiar da Comunidade Córrego Fundo no município de Araçuaí é pedreiro e acredita que padronizar a construção das tecnologias vai trazer uma qualidade melhor para as mesmas. Segundo ele o principal objetivo do seu trabalho é garantir que elas (as cisternas) segurem água. “Eu não tenho dificuldade no meu trabalho, mas às vezes a gente usa uma água salobra e eu penso que não ela não seja boa pra construção” analisa e traz essa análise para reflexão no coletivo.
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Visitas de campo |
Com uma metodologia bem dinâmica e participativa, foi possível garantir a contribuição ativa de todos os participantes, que puderam analisar e discutir a relação entre o técnico, estético e o politico no processo de construção das diversas tecnologias da ASA. Rafael Pacheco, animador social do Centro de Agricultura Alternativa de Montes Claros (CAA) atua em Janaúba e diz que este é sendo um momento de nivelar as ações do cotidiano, dividir as dificuldades e cada um/a poder ajudar o outro, falar a mesma língua e passar uma imagem única no sentido das tecnologias. Rafael aponta como desafios as estradas ruins e a não aceitação por parte de algumas famílias às alternativas agroecológicas.
Valmir Lopes, coordenador do P1+2 pela Cáritas Brasileira Regional MG com atuação na região de Januária diz que a oficina foi de extrema importância para a ASA-Minas e lembra que ela foi debatida há mais de um ano e que apesar de seguirem o padrão ASA, as tecnologias têm diferenças que influenciam diretamente em suas qualidades. “Nesses dois dias de encontro , pudemos discutir ideias, visitar comunidades e avaliar as tecnologias do P1MC e do P1+2 com um olhar mais técnico. Tivemos consenso de 90% dos debates e 10% do não consensual vão para estudos técnicos. Encaminhamos a criação de duas comissões para buscar instrumentos de capacitação, no caso, uma cartilha sobre a qualidade das implementações, tanto para os pedreiros quanto para os animadores. Valmir finaliza dizendo estar muito feliz com a oficina pois todos/as se envolveram nas discussões pensando tanto na gestão das ideias quanto em suas práticas.
O processo de nivelamento e sistematização de conhecimentos envolve compreensão e sensibilidade de todos e todas que convivem com o Semiárido. Isso garante que as pessoas em seus diferentes papéis possam ser protagonistas de suas histórias.