Conheça a história de Marly Marcolino de Jesus, agricultora da comunidade de Lagoa de São João, em São João da Ponte
Quem vê dona Marly mostrando contente o quintal e as melhorias que chegaram a partir do acesso à água, não imagina que há poucos meses ela estava sem poder cuidar das plantas por conta do tornozelo direito fraturado. “Ainda não tem muita coisa verde, porque tem pouco tempo que eu estou podendo vir na roça e ainda não tem o cano das cisternas descendo até aqui, mas daqui uns dias quando vocês voltarem vai estar mais mudado”, diz a agricultora que em 2018 foi contemplada com o Programa Uma Terra Duas Águas - P1+2 e que está em fase de finalização a implantação do seu projeto produtivo, que previa a construção de um galinheiro, um chiqueiro, além da estruturação de um sistema simplificado de irrigação.
A agricultora relembra o dia que recebeu a notícia de que seria beneficiada pelo P1+2 e se emociona ao contar. O Programa, a partir da construção de uma cisterna para captação da água de chuva para a produção de alimentos e cuidado animal, promove a soberania e segurança alimentar, com o apoio e formação para implantação de um sistema produtivo de base agroecológica.
A estrutura escolhida pela família está quase completa, mas antes mesmo de finalizada já se pode ver a horta brotando e os chiqueiros estruturados. “Quando que eu ia sonhar que uma coisa dessas ia acontecer comigo? Eu nunca ia ter condições de fazer uma caixa ou um chiqueiro desses, eu fico muito alegre com isso”, conta a agricultora apontando para a estrutura do chiqueiro e do galinheiro de alvenaria construído bem ao lado do chiqueiro improvisado com lenha.
A casa de Marly e sua família é simples e acolhedora. Na cozinha fogão a lenha e do lado de fora, um banheiro em fase de construção. Mas o que mais chama a atenção, é que logo quando se chega na propriedade, o olhar de quem passa se volta para as duas cisternas ao redor da casa, cercada por um verde em transição que espera o período de chuva para revigorar.
Marly Marcolino de Jesus mora com o marido, Dermeval Alves Santa Rosa, e com um dos sete filhos na comunidade de Lagoa de São João, em São João da Ponte, mas como conta, a casa está sempre cheia: “casou mas vive tudo aqui”. Tudo que cresce no quintal vai para a toda a família: as bananas, a cana, as galinhas, entre outros. A agricultora, que se casou aos 16 anos, mudou-se de Varzelândia, município vizinho, para São João da Ponte há 29 anos. Com 25 anos já tinha os seus 7 filhos e tudo que tem hoje no quintal, foi plantado pelas mãos da família.
Nascida e criada em comunidade rural, a escola que a agricultora frequentou foi a roça. Ela conta que antigamente os pais não tinham preocupação em colocar os filhos para estudar, mas ela quis colocar todos os sete na escola. Marly diz que os seus filhos nasceram em um tempo melhor, iam para escola de manhã e à tarde ajudavam em casa. “Criei meus filhos tudo na roça, mas eles foram para a escola, eu mesma só sei escrever meu nome e reconhecer algumas letras”, se orgulha ao relembrar oportunidades melhores que conseguiu possibilitar à família.
Com a simplicidade de quem acredita que direito é favor, Marly fala que quando quebrou o tornozelo e não pode cuidar do quintal, recebeu um auxílio-doença, que deu para custear as despesas da casa, durante o período que ela não tinha condições de ir até a cidade para vender polpa de frutas e o corante do urucum, produtos beneficiados dos frutos do próprio quintal para garantir renda.
Alegre com a visita, a agricultora logo se organiza para mostrar como se prepara o corante que vende na cidade: vai para debaixo do urucuzeiro, pega um saco com o urucum colhido, bate para tirá-lo da casca, usa a peneira para separar as sementes, soca no pilão com o fubá e depois peneira o pó. “É bom mostrar as coisas que a gente faz para as pessoas saberem, né?”, afirma focada no processo.
A agricultora recebe o benefício da Bolsa Família e conta que a região não é de muitas oportunidades, mas que, se tem água, tem o que é preciso para trabalhar. “Porque você sabe, se você tiver a água você vai conseguir alguma coisa. Daqui alguns dias tem tudo, se nas águas a gente tem, porque agora molhando não pode ter né?”, diz olhando para o quintal esperançosa. Marly ainda conta que a água encanada é cara e insuficiente e que se tivesse que pagar para plantar, não teria condições.
Como em outras cidades do Semiárido Mineiro, o acesso água nunca foi algo fácil. Com longos períodos de estiagem e pouca chuva, ter água no quintal é algo muito satisfatório. Marly conta que quando era mais nova, chovia mais. A água que tinham para beber também vinha da chuva, mas era guardada em tambores e pega em poças d’água que se formavam.
Foi em 2013 que a família de Marly recebeu a sua primeira tecnologia de captação de água de chuva, essa voltada para o consumo humano. A tecnologia fruto do Programa Um Milhão de Cisternas trouxe qualidade de vida e promoveu o acesso água de qualidade. “Eu bebo água só de lá, ela não traz doença e é doce”, diz.
Em meio a toda dificuldade ao ser questionada se tem vontade de sair dali, com o sorriso no canto da boca, logo responde: “Eu não sei viver na cidade”, afirmando que não tem lugar melhor que o campo e que para quem tem coragem e esperança, a recompensa é viver ouvindo e sentindo o sossego da roça.
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