Erikson Jardim – Comunicador Popular ASA-Minas/Cáritas Baixo Jequitinhonha
A Articulação Semiárido Brasileiro em Minas Gerais (ASA-Minas) participou do “Papo que Vale”, evento que ocorreu na cidade de Itaobim/MG, nos dias 28 e 29 de setembro com o tema Água: Patrimônio do Jequitinhonha. Participaram do “Papo” o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a ASA-Minas, o Movimento a Água é Nossa (Itinga/MG) e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Agricultura e Meio Ambiente da cidade de Itaobim. O Papo que Vale é um projeto de extensão, realizado pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), de acordo com Mateus de Moraes Servilha, coordenador do projeto e professor da UFVJM, o Papo que Vale “tem como objetivo principal a promoção e a valorização de diversidades e riquezas culturais, buscando contribuir para o fortalecimento de diferentes grupos sociais a partir de seus olhares, saberes e identidades regionais”.
A Praça Afonso Arinos na cidade de Itaobim recebeu a edição do projeto na noite do dia 28 de setembro, com a participação de Tadeu Martins que na abertura do evento, saudou todos presentes contando “causos” e jogando versos sobre o nosso bonito sertão.
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A mesa de debates se iniciou com a fala de Pierre Gusmão, representante do Movimento a Água é Nossa, da cidade de Itinga. A problemática do município com relação ao abastecimento de água foi apresentada para o público presente. Segundo Pierre todo o problema se iniciou após a COPANOR assumir o tratamento e abastecimento de água no município, “há muito tempo nosso município tinha o seu próprio sistema de distribuição de água, após a chegada da COPANOR, famílias que pagavam 5 reais por mês pelo uso da água, agora pagam 50 a 60 reais por mês na conta de água, ou as famílias pagam as contas de água ou se alimentam”. Pierre ainda destacou a participação de diversos moradores nas manifestações realizadas na cidade, contra o aumento abusivo da conta de água e a intransigência da COPANOR no tratamento com a população. E avisa “iremos continuar com as manifestações até que a tarifa seja reduzida de acordo com as condições sócio-econômicas da população local”.
A apresentação da ASA-Minas foi realizada por Geovane Rocha, comunicador popular da Cáritas Diocesana de Almenara. De acordo com Geovane, a ASA-Minas atua “através da articulação das diversas entidades que estão no semiárido, temos o objetivo de divulgar, propagar e estimular experiências populares de convivência com o semiárido”. Ressalta também que a ASA surgiu para quebrar o estigma do sertão sofredor e pobre e se propõe a lançar um novo olhar para a região semiárida, “a ideia de combate à seca é errada, devemos encontrar e experimentar formas de conviver com a seca e com a natureza”. Finalizando sua fala com palavra de ordem da ASA “É no semiárido que vida pulsa, é no semiárido que o povo resiste”.
O Secretário de Agricultura Álison Vieira, destacou os trabalhos realizados, visando a convivência da população com a seca, dentre as ações realizadas as barraginhas e a proteção e conservação de nascentes configuram como ações estratégicas e já apresenta bons resultados, Álison Vieira ainda enfatiza a falta de diálogo do Governo de Minas com a cidade de Itaobim, pois “o governo de Minas tem como prioridade a perfuração de poços artesianos, mas a cidade de Itaobim quer utilizar a potencialidade do Rio Jequitinhonha”.
Aline Ruas do MAB realizou uma análise da realidade do Vale do Jequitinhonha com relação à utilização da água como bem público. Destacando a ausência de políticas que democratizem o acesso à água “no Vale do Jequitinhonha tem muita água, o grande problema é o acesso à água. Há a água dos ricos (fácil acesso) e a água dos pobres (abastecimento difícil, má qualidade, carros-pipa em troca de votos), isso deve acabar”. E acrescenta “Aqui no Vale, temos 3 grandes desertos, o deserto verde (monoculturas de eucalipto), o deserto marrom (mineração) e o deserto azul (hidrelétricas), temos uma imensidão de água presa que nós moradores do Vale, não podemos utilizar, nem pra pescar, nem pra navegar, nem lavar nossas roupas”. Ao finalizar a fala, Aline enfatiza a necessidade da organização popular, para pressionar o poder público, enfrentar o capital e tomar pelas rédeas o desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha numa perspectiva popular.
No domingo, dia 29 pela manhã, na Escola Municipal Pedra Verde aconteceram oficinas sobre a Água no Vale do Jequitinhonha, onde as organizações puderam apresentar de forma mais detalhada sua atuação e também se sintonizarem para as ações futuras que necessitam ser mais articuladas. Posteriormente ocorreu a apresentação do Plebiscito Popular pela redução da conta de luz, onde Aline Ruas do MAB apresentou informações sobre a forma abusiva que o Governo de Minas cobra da população pela utilização da energia elétrica, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços) que chega a quase 43% do valor real da tarifa, chamando todos a participar das votações que acontecerão em diversas cidades mineiras dos dias 19 a 27 de outubro.
Como encerramento ocorreu uma linda caminhada ecológica, às margens do Rio Jequitinhonha, com tema “Salve o Rio Jequitinhonha”. Ataliane Pereira, estudante e bolsista do projeto de extensão afirma estar encantada com tamanha riqueza presente no Vale do Jequitinhonha “é magnífico poder conhecer mais de perto esta região, as pessoas são muito genrosas e acolhedoras”.