A luta popular alcançou mais uma vitória em Minas Gerais. Após mais de 20 anos de resistência, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em parceria com o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (GESTA - UFMG), entre outras organizações, conquistaram o arquivamento do projeto da UHE Murta, projeto de 115MW previsto para o rio Jequitinhonha e que atingiria as cidades de Coronel Murta, Rubelita, Virgem Lapa e Araçuaí.
José Miranda de Almeida, um dos ameaçados pela construção, comemora a conquista dos trabalhadores e reafirma que o projeto Murta foi cancelado depois de muita luta dos atingidos que denunciaram os impactos ambientais da construção. “Eles querem somente o que tem de bom em nossa região e deixar somente o que há de ruim. O que já estragou não precisa de mais estragos. Nós queremos desenvolvimento para o Vale do Jequitinhonha e não para as empresas”, afirmou.
Atingidos por Irapé continuam a luta pelos direitos violados
Ao falar de estragos já provocados, José se refere aos impactos da Usina Hidrelétrica de Irapé construída entre os municípios de Grão Mogol e Berilo também no Rio Jequitinhonha, com potência instalada de 360MW e que pertence a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG). Inaugurada em 2006 ostentando ser a barragem mais alta do Brasil, 208 metros, a UHE Irapé deixou um grande rastro de destruição social e ambiental. Até hoje a empresa não reconheceu boa parte dos atingidos pela obra.
Atingido por Irapé na cidade de Virgem de Lapa, José denuncia que o uso de explosivos na construção matou muito peixes. Ele lembra que a CEMIG chegou a jogar peixes dentro do rio na mesma época da realização de uma audiência pública somente para desqualificar os atingidos. “Quando fecharam as comportas, além da grande perda do pescado, muitos animais foram encontrados mortos em vários pontos da margem do rio depois de tomar água contaminada”, denuncia.
Para Moisés Borges, membro da coordenação do MAB, o cancelamento do projeto Murta é uma vitória da classe trabalhadora contra o atual modelo de desenvolvimento, mas lembra que é preciso que a luta continue para impedir os outros projetos previstos para a bacia e também para garantir que os direitos dos atingidos pela UHE Irapé sejam respeitados.
“As águas do rio Jequitinhonha foram contaminadas por sulfeto, material tóxico oriundo do processo de perfuração de rochas na construção da barragem. Exigimos que o governo do estado e a CEMIG reconheçam os atingidos que estão abaixo do eixo e pague a dívida a todas as famílias atingidas, sobretudo cumprindo a promessa de oferecer água potável e um plano de desenvolvimento produtivo das comunidades atingidas”, conclui.
Em toda a bacia do Rio Jequitinhonha estão previstas 13 grandes usinas e mais quatro pequenas centrais hidrelétricas.