Por Priscila Souza – comunicadora popular ASA/Cáritas.
O Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do semiárido mineiro ocorreu nos dias 18 e 19 de Abril na unidade de experimentação do Centro de Agricultura Alternativa (CAA) na cidade de Montes Claros.
Os relatos de experiências trouxeram aos agricultores que as formas que eles aprenderam a viver e a produzir sem veneno, sem monocultura, garantem a capacidade do agricultor de produzir em grande quantidade, equilibrado com a natureza usufruindo o melhor dela com alimentos saudáveis. Esta forma de viver só é possível graças às experiências acumuladas e as resistências dos agricultores e agricultores familiares.
Inspirada pelo encontro Elizangela diretora do CAA relata que “plantar como a gente planta produz muito bem! Somos agricultores diferentes, que lutam pelo diferente e que fazem a diferença, pois quem luta pela água, luta pela vida” diz Elizangela conhecida como Ló agricultora experimentadora e diretora do CAA.
O encontro contou com a participação de cerca e 30 pessoas das regiões do vale do Jequitinhonha e Norte de Minas Gerais e contou com grandes relatos sobre as formas com que a agricultura agroecologica vem se desenvolvendo trazendo vida à natureza e a quem se alimenta dela, uma agricultura sustentável que vem enfrentando e resistindo ao projeto de monoculturas e de mineração que vem secando, poluindo e destruindo as fontes de vida vitais como a água, terra e consequentemente gerando miséria.
No primeiro dia marcou o encontro o reconhecimento de que no semiárido mineiro o principal inimigo que vem tirando as condições de viver do agricultor é o monocultivo do eucalipto e as mineradoras. Como contraponto a tarde o grupo presente do encontro foi conduzido por Onório também conhecido como Baiano, a conhecer as experimentações do CAA, que foram diversas e ricas com base na valorização do cerrado como fonte de alimento e saúde para o agricultor e suas criações. Técnicas de manejo como criação de porco caipira com áreas de pastagem e alimentação natural, sistema de raleamento para área de pastagem e lenha sem degradar a flora e fauna já existente, aléias que são os pastos em curva de nível e que forma bacias de contenção de água da chuva, horticulturas, Produção Agroecologica Integrada e Sustentável (PAIS)– todo o controle de pragas e doenças além da fertilidade da terra é feito com compostos orgânicos e homeopatia.
A homeopatia foi alvo de grande interesse dos agricultores e agricultoras pois para quem não usa transgênicos, agrotóxicos ou nenhum tipo de veneno o controle de pragas e doenças é o principal desafio para a produção e produtividade da lavoura, com a homeopatia se consegue o controle e ao mesmo tempo se fortalece a vida das plantas, do solo, e dos seres humanos e animais que se alimentam da roça.
Uma visita a casa de sementes regional (AEFA) do CAA em que se armazena sementes crioulas para garantir preservação de todo material genético preservando a biodiversidade e a autonomia do agricultor e da natureza de produzir e multiplicar, vencendo a barreira imposta pelo mercado de sementes hibrida que não possuem fertilidade. Também foi conhecida a experiência da Cooperativa Grande Sertão que surgiu na necessidade de um grupo extrativista de acessar o mercado e hoje produzem mais de 5 cadeias produtivas como polpa de fruta, conservas de pequi, olé conseguindo vender mais de 100 toneladas de produtos orgânicos trazendo ao consumidores a opção de se alimentar com produtos produzidos de forma sustentável e sem veneno.
No ultimo dia pela manhã os agricultores relatam suas experiências em que todos apresentam como principio a capacidade de produzir, gerar renda e qualidade de vida sem usar veneno, respeitando a natureza e a saúde humana.
Teresinha da comunidade de veredinha do Vale do Jequitinhonha conta que com o PAA e PNAE o sonho de todo o agricultor pode ser realizado, que é o de produzir e ver os alimentos serem consumidos gerando renda a família.
Entre as experiências a barragem subterrânea fez com que família conseguisse quintuplicar sua capacidade, a casa da semente criola, a rotação de cultura para enriquecer a terra e a capacidade de produção. Adubagem verde, cultivo em curva de nível, organização da associação que conseguiu organizar a feira tendas e balança possibilitando fortalecer agricultora. Criação de porcos com uma alimentação natural provando que não é necessária alimentação hormonal para garantir uma escala de produtividade, as porcas chegam a dar três criações por ano, e os leitões chegam a vendê-los com mais de 80 kg. E estas foram às experiências que mostram que um semiárido sustentável é possível com base no conhecimento popular.