Mudanças climáticas: crianças e adolescentes se preparam para visita ao Congresso Nacional e encontro com equipe de transição de Dilma Roussef


Publicado há 14 anos






Marcelo Schneider

Cristian disse: “Tem uma barragem aqui perto. De vez em quando, vamos lá tomar banho nas águas da represa, mas ela é poluída. Aí algumas crianças ficam doentes e contagiam as outras. Isso não é bom”.

Cristian da Silva tem 13 anos e é um índio Guarani. Ele vive em Barragem, na periferia da cidade de São Paulo e canta num coral da aldeia onde vive. Ele é uma das 22 crianças e adolescentes selecionados entre os projetos da CESE para participar do encontro “Mudanças Climáticas: Nossa Vida está em Jogo!”, que acontece entre 6 e 8 de dezembro, em Brasília/DF.

As crianças e adolescentes se preparam para serem recebidos no Congresso Nacional neste dia 8. Nos dois dias em que estiveram reunidos para trocar experiências descobriram que suas realidades são muito similares, e que as transformações na natureza ao seu redor são muito parecidas ao que crianças experimentam em outros cantos do Brasil e do mundo.

Na tarde desta terça-feira, dia 7, os participantes do encontro se dedicaram a confeccionar grandes bandeiras do Brasil marcadas por palavras que julgam de valor indispensável para seu país.

‘Amizade’, ‘respeito’, ‘compromisso’, ‘distribuição’ e ‘harmonia’, foram algumas das palavras mais freqüentes nesta dinâmica. Estas palavras estão presentes no dia-a-dia das crianças ali reunidas e traduzem as necessidades locais que, em sua opinião, também são globais.

Dois representantes do Grupo Cultural Afro Reggae, que estão participando do evento, corroboram com a afirmação acima. Marcio Henrique Santana de Oliveira é integrante do grupo de música e dança Makala, uma das iniciativas ligadas ao Afro Reggae, no Rio de Janeiro. Marcio vê conexões muito claras entre o que faz em sua comunidade e o tema do encontro em Brasília. “Nós fazemos coreografias a partir de elementos da natureza. Acho que isso também é uma forma de estarmos mais próximos do meio ambiente e aprendermos a cuidar”, afirmou.

Sônia Santos Goñes também é do Afro Reggae e participa de oficinas de circo promovidas pelo grupo cultural carioca. “Circo é arte. Esta arte expressa nossa voz. E nossa voz fala de como vemos o mundo e a natureza. Nossa cidade, o Rio de Janeiro, não se limita às fronteiras de criminalidade que hoje assustam tanta gente”. Para ela, estar evolvida no Afro Reggae significa participar de um universo de tantos projetos que abrem fronteiras para as pessoas da periferia e que estão ajudando a formar uma nova cidade, um novo estado.

O que estas crianças e adolescentes vão encontrar no Congresso nacional?

Para Clecir Trombeta, secretária do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça, em Brasília, que congrega as pastorais sociais da igreja católica e outros movimento parceiros, e que participou parcialmente das atividades do encontro, o Brasil vive, atualmente, um momento ambíguo em relação à sua agenda acerca de questões climáticas: “A sensação que se tem é que o Brasil faz um discurso avançado em nível internacional, com gestos de compromisso de redução de emissões de gases, mas que, na prática, não se vê muito disso, também por força de interferências diretas de parlamentares a serviço de corporações poluidoras agindo em território brasileiro”, atestou. “Mas mesmo que não haja um discurso claro, há ações pontuais muito efetivas, que são fruto das cobranças dos movimentos sociais”, concluiu.

O esforço da coordenação do evento é desenvolver a consciência destes jovens agentes sociais de que existem ações que precisam de decisões do governo, como a diminuição das queimadas, a restrição das monoculturas e do avanço das mineradoras sobre os territórios das comunidades tradicionais, a criação de gado em larga escala e a proteção das fontes de água limpa.

Além de serem recebidas pelo Congresso Nacional, as crianças e adolescentes irão entregar a carta do encontro e uma das bandeiras confeccionadas à equipe de transição de governo de Dilma Rousseff, presidente eleita do Brasil, às 10 horas da manhã, no salão oval do centro Cultural Banco do Brasil.

O Encontro com crianças e adolescentes “Mudanças Climáticas: Nossa Vida está em Jogo!” acontece entre os dias 6 e 8 de dezembro de 2010 em Brasília/DF e é promovido pela Coordenaria Ecumênica de Serviço (CESE) em parceria com Act for Children (Holanda, África do Sul, Índia e Quênia) e Campanha pela Educação (Brasil). A CESE é membro da ACT Aliança, que reúne 105 organizações ligadas a igrejas ao redor do mundo envolvidas no trabalho de ajuda humanitária e apoio do desenvolvimento e defesa de causa. www.actaliance.org A organização de ajuda humanitária é um esforço conjunto da Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. www.cese.org.br
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A Cese também é companheira da ASA apoiando as articulações das entidades parceiras em muitos espaços.

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