“Nós não estamos a passeio, estamos aqui porque confiamos que unidas, de mãos dadas, podemos melhorar a vida das mulheres”, desabafa Maria Madalena Oliveira Leite, a Dona Nenzinha. Ela é agricultura, diretora do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), vive na Comunidade Abóboras, município de Montes Claros, em Minas Gerais e participa da 3ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres.
A Ação acontece dos dias 8 a 18 de março no Brasil, organizada pela Marcha Mundial das Mulheres. Neste período, cerca de 2 mil mulheres de todas as regiões do país realizam uma caminhada entre as cidades de Campinas a São Paulo. Com o tema “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, a marcha pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras.
Nesta quarta-feira, dia 17 de março, as mulheres chegam a Osasco e se preparam para o ato final da marcha em São Paulo, capital, no dia 18. Centenas de mulheres de todo o semiárido brasileiro participam da Ação.
Isolda Dantas, do Centro Feminista 8 de Março (CF8) e da Marcha Mundial das Mulheres, conta que do seu estado vieram 400 mulheres, sendo que apenas 50 não são do semiárido. “Lá no Rio Grande do Norte a Marcha Mundial das Mulheres é muito permeada pelo debate do semiárido”. Isolda explica que a convivência com o semiárido tem muito a ver com a vida das mulheres. “Não há como fazer um debate da convivência sem incorporar as mulheres, pois elas fazem parte desta construção”, afirma.
A Plataforma da Ação 2010 traz diversas pautas que dizem respeito a vida das mulheres do semiárido. Como o eixo de discussão de bens comuns, que trata da questão da territorialidade, da educação contextualizada, do combate às monoculturas e às transnacionais, da questão da terra e das sementes como bens comuns.
Alexsandra de Jesus é estudante e vive no Assentamento Reunidas José Rosa, município de Sítio do Mato, na Bahia. Ela participou do debate de Soberania Alimentar, no dia 12 de março, e conta que aprendeu muita coisa que irá levar para sua comunidade. “Aprendi que as sementes transgênicas foram feitas para acabar com a fome, mas, com elas, a fome aumentou”, explica ela. Em seu Assentamento, eles plantam com suas próprias sementes, que as mulheres selecionam e guardam para plantar no próximo ano.
Anita de Cássia é agente faz parte do GT Gênero da ASA Minas. Ela vive na cidade de Jequitinhonha, em Minas Gerais, e conta que as mulheres do Vale do Jequitinhonha voltam da Ação 2010 com outro olhar. “A gente volta com muita força para tentar mudar a situação do machismo que ainda existe no Vale”, afirma.
Cerca de 20 mulheres do semiárido mineiro, vindas do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha, participam da Ação. Valéria Conceição de Souza percebeu durante a Ação que sempre foi feminista. Ela faz parte do Grupo Mulheres em Ação e vive na Comunidade quilombola Mumbuca, município de Jequitinhonha, em Minas Gerais. Valéria conta que na marcha discutiu muitas coisas que tem a ver com sua realidade: divisão de trabalho domésticos, combate a violência, machismo, solidariedade entre as mulheres, entre outras. “Falar dessas idéias na comunidade vai ser fácil, a luta será construir a prática, mas vou tentar”, afirma.