Conheça a história de Manoel e Eva da comunidade de Santos Reis, Francisco Sá, localizada no Semiárido mineiro:
Respeito
Manoel de Barros
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Conheça a história de Manoel e Eva da comunidade de Santos Reis, Francisco Sá, localizada no Semiárido mineiro:
Um sorriso estampado no rosto, a alegria em ver no quintal as plantas crescerem e roduzirem, a família reunida e os amigos por perto, é o essencial para o agricultor Manoel Ramos da Silva, que diz ver a beleza na simplicidade daquilo que o faz feliz.
Como o seu xará poeta, Manoel de Barros, o quintal do agricultor da comunidade de Santos Reis, Francisco Sá, também é maior que o mundo e transborda poesia. Nas mãos, as marcas do cuidado com a terra, reflete o que nenhuma palavra é capaz de traduzir em versos. O poema se escreve no cultivar das plantas e no modo de vida sustentável que leva. A alegria é constante e a paciência em contar as transformações que vivenciou no Semiárido mineiro transborda em sorrisos.
Manoel vive com a sua esposa Eva e seus três filhos no Norte de Minas. Depois de dois anos convivendo com o Semiárido a partir das tecnologias de captação de água de chuva que fazem parte do Programa Um Milhão de Cisternas e do Programa Uma Terra e Duas Águas, o casal se orgulha ao mostrar o quintal diverso e a pequena criação de animais que têm em casa.
Pode-se ver um pouco de tudo: milho, feijão, maracujá, mandioca, banana, e até frutas que não são comuns na região como o morango. Além dessas variedades, o casal se orgulha da horta. Lá é onde Eva gosta de passar a maior parte do tempo, e conta que se pudesse não sairia de lá.
Segundo o casal, ver as plantas crescerem só se tornou uma possibilidade com a chegada das cisternas de captação de água de chuva. Por muitos anos, a comunidade era abastecida pelo rio, as pessoas “panhavam” a água em baldes. Era preciso andar muito. E nem quem morava mais perto podia colocar bomba por falta de energia elétrica. Eva e Manoel contam que a realidade foi mudando aos poucos. Primeiro com o poço comunitário e depois com ações governamentais para o acesso à água potável alinhado ao esforço da própria comunidade. No entanto, ainda não se dava para ver a plantação farta na propriedade: “A produção de antes sem as caixas era muito fraquinha. A gente tinha um pé de cebola ali, pouca coisa, porque antes era pouquinha água, mas hoje mudou demais. A produção é mais farta. ”, conta o agricultor.
Hoje, o que se compra para casa é o mínimo. Todo alimento que cultivam vai para a mesa e o que sobra é a principal fonte de renda da família que comercializa o excedente da sua produção, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. A família ressalta a importância da garantia de políticas públicas para a convivência com o meio rural. Por mais que consigam produzir boa parte dos alimentos, é necessária renda para garantir outros itens de consumo.
Manoel explica que essa renda dá ainda autonomia para que ele não precise trabalhar fora. O agricultor ficou desempregado em 2014 e afirma que hoje pensaria muito em ser empregado de alguma empresa, graças às condições que ele tem em casa.
Sobre a alimentação, Eva conta que não compram mais nada de verduras e frutas. A agricultora se anima ao contar que o verdureiro apenas passa em sua casa por passar, já que hoje há de tudo um pouco no quintal.
A família antes tinha que comprar frutas quando iam até a cidade e isso não era algo recorrente. Acabavam comprando muito e por não conseguirem consumir tudo, perdiam. Os momentos de formação que o casal se envolveu ao longo dos anos, também transformou a realidade da família. Atualmente, Eva aproveita parte do excedente das frutas que produzem na propriedade para fazer polpas e comercializá-las.
As mudanças são visíveis, afirma Manoel. O agricultor diz que as tecnologias vieram acompanhadas de transformações. Com a água se pode fazer muita coisa e isso ele não fala pela própria experiência, já que na comunidade pode-se ver outras famílias que também aumentaram a produção depois do acesso às tecnologias de convivência com o Semiárido.
O aumento da produção não foi o único benefício gerado para a comunidade. A união entre os vizinhos e as trocas de saberes avançou depois das capacitações que foram dadas às famílias. O casal conta que o conhecimento que possui hoje torna muito mais fácil o cultivo e combate a pragas através de técnicas alternativas, de um manejo adequado do solo e da água.
Tudo isso reflete na soberania alimentar, na qualidade de sabores e na saúde das crianças e dos adultos. Poder produzir o próprio alimento e ter a certeza de que não há veneno nas plantações, garante a autonomia e soberania das famílias. No Semiárido, lugar de resistência e convivência, todo quintal é um mundo.
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