Por Paula AlvesComunicadora Popular Cáritas Diocesana de Januária
Aconteceu na Comunidade de Olhos D’ Água, no Peruaçu, a oficina de coleta de mudas florestais e de revitalização das sementes crioulas. A atividade contou com participação de mais 35 pequenos agricultores e agricultoras que puderam relembrar e resgatar a antiga tradição de seus pais e avós de guardar e compartilhar as sementes originárias das seleções.
Com a assessoria do Instituto Estadual de Florestas (IEF/MG) os participantes também aperfeiçoaram as técnicas de coleta de sementes e plantação de mudas florestais nativas, conhecimento essencial para ajudar no reflorestamento das margens do Rio Peruaçu degradado ao longo dos últimos anos e, ao mesmo tempo, incentivar o aumento do plantio de árvores frutíferas nos quintais das famílias da região.
“A humanidade perdeu os óculos de visão da natureza” Seu Mozar Gonçalves de Lima.
Durante a oficina foram muitos os relatos sobre como o Rio Peruaçu, principal afluente do Rio São Francisco, era cheio de água e como hoje ele se encontra mais seco e raso. O desmatamento nas cabeceiras do rio para realizar plantação, as queimadas, o uso de grandes máquinas de plantio tudo isso alterou sua paisagem natural.
Essa alteração ocorreu a partir dos anos 80 em que um novo modelo de agricultura surgiu incentivando a monocultura e técnicas para aumentar a produção que na maioria das vezes não respeitava o meio ambiente, muitos pequenos agricultores e agricultoras iludidos com essa idéia de “modernização do campo” assimilaram essas técnicas e perderam, em partes, sua cultura milenar de cuidar e respeitar a natureza.
O retorno das Sementes Crioulas
Segundo Jaime um dos guardiões das sementes crioulas e assessor da oficina, as Variedades crioulas são aquelas que ainda não foram modificadas, seja pela biotecnologia ou por outros processos de melhoramento elas são frutos da seleção dos próprios agricultores.
Para Dona Teodolina Fernandes Cardoso da Comunidade de Vereda Grande II muito conhecimento a respeito das sementes se perdeu
“Meus pais plantavam com essas sementes, eu nunca vi eles comprando. O milho que ele plantava dava menos caruncho do que o de hoje porque ele ficava antes separando as sementes, disso eu me lembro bem.”
As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes, e menos dependentes de insumos. São também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. Uma das técnicas antigas de preservação das sementes é através da troca e partilha entre os próprios agricultores o que ajuda no melhoramento das espécies e das variedades.
Ao final da oficina foi encaminhado a construção de 2 bancos de sementes crioulas no Peruaçu. O banco é de uso coletivo e funciona com um sistema de empréstimo e doação de sementes o que possibilita a preservação dos recursos genéticos locais e contribui para a segurança e soberania alimentar.
Exemplo que vem do Peruaçu
Em meio a oficina os participantes visitaram a área de Zé Torino e Nelinda da Comunidade de Olhos D’ Água. O casal é um exemplo para todos de cuidado e respeito com natureza. Zé Torino é agricultor da região e no fundo da sua terra corre o Rio Peruaçu, ele preserva a vegetação nativa e ainda ajuda plantando mudas novas. Possui ainda plantação de alface, tomate, couve, cheiro verde e outras variedades que ele cultiva sem usar agrotóxico, tudo "ao natural". Zé Torino diz ser um “homem da natureza”.
A oficina de sementes crioulas e mudas florestais ocorreu entre os dia 07 e 08 de agosto e faz parte das ações do Projeto Peruaçu, executado pela Cáritas Diocesana de Januária junto com o Programa Água Brasil, contemplando um dos seus objetivos que é incentivar o desenvolvimento sustentável e solidário em prol do povo do Peruaçu e do seu Rio.