O EnconASA vai acontecer este ano no município de Januária, sob as margens do Rio São Francisco. Será uma excelente oportunidade para refletir sobre a atual situação não só do rio, mas de toda a bacia. Considerado o rio da integração nacional, o São Francisco nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais e deságua na divisa de Sergipe e Alagoas. Na passagem pelos cinco estados, o Velho Chico percorre 2,7 mil quilômetros. O rio já foi utilizado com meio de transporte, comércio, fonte de água pra beber e plantar das populações ribeirinhas. Contudo, hoje ele se encontra ameaçado.
Segundo o repórter Claudio Motta, restam apenas 4% da vegetação das margens do Rio São Francisco. Desprovidas de cobertura verde, elas sofrem mais com a erosão, que assoreia o rio em ritmo acelerado. Os solos apresentam altos índices de salinização e os açudes ficam com a água salobra, aumentando as áreas de desertificação. O Velho Chico está praticamente inviável como hidrovia. Espécies foram extintas e ecossistemas estão profundamente alterados.
Entre as causas da diminuição da capacidade hídrica esta o intenso uso para o abastecimento humano, agricultura, criação de animais, recreação, indústrias, mas, principalmente, pelos monocultivos de eucalipto, pasto de gado, desmatamento de grandes áreas levando a morte de nascentes e rios de menor porte que desaguavam no Velho Chico.
As barragens acabaram com as lagoas onde os peixes se reproduzem, impediram o fluxo dos peixes e mudaram a qualidade da água. Grandes empresas como a Votorantim permitem vazamentos de metais pesados, conforme várias denúncias. Somado a contaminação pelos esgotos, a pesca e o consumo de água ficaram comprometidos. As hidrelétricas e os grandes projetos de irrigação fazem parte dos diversos atalhos e pretextos que o sistema tem usado para ceifar a vida do rio e dos povos que dele dependem.
Além de todos esses afrontes, o rio tem sofrido grande ameaça pelo projeto da Transposição do São Francisco, que além de abalar sua saúde, vai manter a água concentrada, beneficiando grandes fazendeiros e empresários. Quem afirma isso é a Articulação Popular pela Revitalização do São Francisco, que reúne ribeirinhos e organizações sociais na luta em defesa do Velho Chico.
A Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) vem promovendo o acesso à água desses povos da região do Médio Vale do São Francisco, descentralizando o uso da água, através de uma dinâmica de armazenamento da água da chuva para consumo humano e para produzir no quintal, evitando o desmatamento para plantio nas margens dos rios. Com isso, a ASA tem trabalhado o desenvolvimento humano sustentável com tecnologias simples que melhoram a vida das pessoas e do rio.
Durante o VIII EnconASA, que acontecerá de 19 a 23 de novembro, em Januária, os povos do Semiárido terão a oportunidade de partilhar suas experiências e expectativas sobre o nosso Opará – São Francisco - e construir a perspectiva de um Semiárido melhor pela vida dos povos e do Velho Chico.