por Giovana Prates/ comunicadora Popular Caritas Araçuaí/ASA
“Alimentar bem era meu sonho, agora posso dizer que consegui”, com os olhos cheios de esperança, Dona Lindaura Oliveira e Seu Manoel Ramalho, da comunidade Padre Mário Uzan, município de Itinga descreve a batalha da família e as dificuldades que enfrentaram, ao longo dos anos, para conseguir água para produção de alimentos. Casados há 21 anos e pais de 03 rapazes (Jarbas, Lucas e José Santos) e 02 moças (Isabel e Marisa) eles contam que a batalha maior sempre foi pela água, sem ela seria impossível plantar e colher, assim não poderiam alimentar sua família. “Houve um tempo que achei que aqui não daria mais pra sobreviver, só que eu não desisti, fui teimoso e sempre tive a esperança que Deus iria mandar uma solução que mudaria nossas vidas.” relata seu Manoel.
Ele conta que tudo era muito difícil, pegava água em uma pequena cacimba a 1km da sua propriedade, essa água era sagrada, pois não era só sua família que dependia dela, mais também os vizinhos mais próximos faziam o uso dela pra beber, “íamos a pé mesmo, a água era carregada na cabeça em vasilhames, e servia somente pra cozinhar e tomar banho, não podíamos ter o luxo de plantar nada, pois se molhássemos uma plantinha se quer faltava água pra beber. As poucas plantas que possuía no quintal como pé de manga e laranja, eram regadas com o resto de água do banho, ou das vasilhas da cozinha”, conta dona Lindaura.
Caçimba já em fase final
Com o passar dos anos a água foi secando, e chegou um tempo que não tinha nem para o consumo da casa. Seu Manoel disse que viveu tempos difíceis, mas como quem nunca perdeu a esperança, sabia que mais cedo ou mais tarde a solução viria.
Sr Manoel conta que fazia lavouras de milho, feijão e mandioca, mantidas com água das chuvas, só que nem todos os anos elas produziam, tinha ano que a seca castigava e o sol forte matava toda a plantação, acabava perdendo tudo. “Quando isso acontecia era mais difícil ainda, pois quando o ano era bom de colheita fazíamos farinha pra vender, vendíamos feijão e milho, mas quando não dava nada, eu ficava muito desanimado, e sem saber como fazer pra comprar alimentos pra minha família. E permaneci nessa luta por anos, um ano bom de colheita, outro não dava nada.” conta sr Manoel
Em 2005, a vida da família mudou.
Segundo Sr Manoel, as coisas começaram a melhorar, quando eles foram contemplados em 2005 com a cisterna de 16 mil litros da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) através do centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica de Turmalina (CAV), pois eles tinham água na porta de casa, e isso pra ele já era um luxo.
“Quando ouvi dizer que a Cáritas estava realizando trabalhos de convivência com o semiárido nas comunidades, já fui logo querendo saber como funcionava, pois que sabe meu sonho podia ser realizado, já imaginava meu quintal forrado de alface, cheio de hortaliças e já sentia o cheirinho verde no prato, e minha família alimentando melhor.”relata Sr Manoel.
O sonho concretizado
Em 2011, foram contemplados com uma cisterna de enxurrada, da ASA através da parceria com a Cáritas Diocesana de Araçuaí. Conta-nos que nem dormia a noite de tanta felicidade, pois estas tecnologias apareceram como a luz no fim do túnel, e finalmente puderam fazer uma plantação, que garantisse alimentos para a família o ano todo, sem correr o risco de faltar água para molhar. “Hoje tenho um quintal, onde planto tudo que quero, garanto á alimentação da minha família, dou pros meus vizinhos, alimentos meus pequenos animais com os restos que sobram, e só não vendo mais porque às vezes não dá tempo de chegar à cidade, fica tudo no caminho mesmo.” fala Manoel. Ele afirma que as ações de convivência com o semiárido devolveram a esperança para dias melhores, hoje em dia o casal faz lavouras e quando não dá pra fazer a colheita, sabem que têm o quintal que ira garantir para a família a alimentação que eles precisam. Sr Manoel diz que sua inspiração, vem da fé, somada com todos que não medem esforços para fazer do semiárido um lugar pra se viver, e ter água para plantar e colher é mesmo que ter um sonho concretizado.
Dona Lindaura na horta, que garante a alimentação da fámilia.