A nossa região foi ocupada por negros aquilombados que já viviam aqui antes mesmo da chegada de Matias Cardoso em 1660. Nossos antepassados buscaram liberdade, formaram um povo, vivendo em paz com a natureza.
Nos anos de 1970 quando a Ruralminas chegou à região, muitas comunidades quilombolas e vazanteiras foram expulsas de suas terras por grileiros para a formação de fazendas.
Nossa gente passou a viver encurralado nas ilhas e em pequenas áreas nas margens do Rio São Francisco. Esta é a história do Quilombo da Lapinha, da fazenda Casa Grande e de muitas outras comunidades tradicionais da região. Nas terras que vivíamos também foi implantado o projeto Jaíba e depois os parques, áreas de “preservação” para compensar a destruição ambiental causada pelo próprio projeto.
Frente a estas injustiças históricas cometidas contra o povo negro, a Constituição de 1988 definiu que o Estado brasileiro deve reconhecer e titular as terras tradicionalmente ocupadas pelos remanescentes de quilombo.
Em 2005 buscamos a Fundação Cultural Palmares que confirmou nosso reconhecimento como remanescentes de Quilombo. Em Setembro de 2006, movidos pela necessidade de sobrevivência e pela memória que nos dá direito de lutar pelas terras perdidas, reocupamos a Fazenda Casa Grande onde viveram muitos dos nossos antepassados, que é parte do nosso território tradicional.
Apesar de termos direito, nos últimos anos vivemos oprimidos e ameaçados de ser expulsos - do último refúgio que nos sobrou - pelo fazendeiro e pelo estado de Minas Gerais, por ação do IEF.
Seguimos lutando pela demarcação e titulação do nosso território. Depois de uma longa batalha o Juiz Federal da 1ª Vara da Justiça Federal de Montes Claros deferiu liminar de manutenção de posse da área que ocupamos no interior da fazenda Casa Grande até que “se defina a titulação da área aos remanescentes do Quilombo”. O Juiz levou em consideração que as margens do São Francisco pertencem à União e não ao fazendeiro, nem ao IEF.
A Articulação Vazanteiros em Movimento, através desta caminhada, convoca toda a população de Matias Cardoso a manifestar sua solidariedade à luta do Quilombo da Lapinha.
Vale a pena lutar por direitos! É importante manifestar nossa indignação contra as ações dos governos que não respeitam o direito humano, quando beneficia os grandes, sem levar em conta as comunidades tradicionais que há séculos vivem nesta região numa convivência de partilha e harmonia com a terra, a água e com todos os seres vivos que são dons de Deus doados a todos nós. É papel do Estado reconhecer direitos e regularizar os territórios tradicionais!
Que os nossos direitos garantidos na Constituição sejam respeitados e reconhecidos!
Territórios livres! Quilombolas e vazanteiros libertos!